Pe. Antônio Marcos Chagas
"O Senhor disse: Não é
bom que o homem esteja só. Vou dar-lhe uma auxiliar
semelhante a ele" (Gn 2,18). O Senhor Deus quis dar a
Adão uma auxiliar semelhante a ele e o simbolismo de
Eva tirada da costela de Adão (cf. Gn 2,22) fala desta
igualdade que exclui toda idéia de dominação
ou subordinação servil. Ora, ninguém
deveria bastar-se numa auto-suficiência narcisista e
egocêntrica. O "eu" é essencialmente
chamado a construir-se dinamicamente na interação
dialógica com um "tu" para construir um "nós".
O "eu" foi chamado a ser um dom para o tu e vice-versa.
A realidade da pessoa humana como um ser comunitário,
social e que partilha, não é outra coisa, no
plano de Deus, que um ensaio cuja meta é viver a comunhão
trinitária: na diversidade construindo a unidade. As
Três divinas e distintas Pessoas, maravilhosamente consumidas
na unidade, apresentam-se como esta fonte; um mistério
que nos faz pensar que a criação do homem à
imagem e semelhança de Deus significa também
perceber-se como um alguém essencialmente chamado à
comunhão.
A diversidade é riqueza e a
unidade é um referencial obrigatório para
um êxodo de amor (sair de si, construir pontes
num movimento de busca do outro que se consolida na
partilha). A diferença, longe de ser uma ameaça,
apresenta-se como uma possibilidade que desafia e enriquece,
vitaliza, desinstala e renova.
Os conflitos podem ser lidos na ótica
de possibilidades novas e inusitadas para um crescimento recíproco:
pedras que se chocam, se lapidam. Não existe, no plano
de Deus, o achatamento empobrecedor da repetição
automática: os clones destroem a sacralidade inquestionável
de ser pessoa, ou seja, um alguém único e irrepetível.
A diferença dos sexos não afeta esta igualdade
de dignidade entre homem e mulher; tal diferença estava
na mente de Deus em ordem à complementaridade. "A
verdade é que toda história humana, se partilhada
com outra pessoa como um ato de amor, alarga a mente e aquece
o coração desta pessoa". Um é chamado
a precisar do outro para se auto-definir, descobrir-se e para
ajudar a construir, enriquecer o outro. É um movimento
em via de mão dupla. E nesta linha de raciocínio
nós entendemos o que Deus pensa da família.
(Texto dividido em 4 partes para melhor compreensão)
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