sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Família: Igreja Doméstica

Pe. Antônio Marcos Chagas
"O Senhor disse: Não é bom que o homem esteja só. Vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele" (Gn 2,18). O Senhor Deus quis dar a Adão uma auxiliar semelhante a ele e o simbolismo de Eva tirada da costela de Adão (cf. Gn 2,22) fala desta igualdade que exclui toda idéia de dominação ou subordinação servil. Ora, ninguém deveria bastar-se numa auto-suficiência narcisista e egocêntrica. O "eu" é essencialmente chamado a construir-se dinamicamente na interação dialógica com um "tu" para construir um "nós". O "eu" foi chamado a ser um dom para o tu e vice-versa. A realidade da pessoa humana como um ser comunitário, social e que partilha, não é outra coisa, no plano de Deus, que um ensaio cuja meta é viver a comunhão trinitária: na diversidade construindo a unidade. As Três divinas e distintas Pessoas, maravilhosamente consumidas na unidade, apresentam-se como esta fonte; um mistério que nos faz pensar que a criação do homem à imagem e semelhança de Deus significa também perceber-se como um alguém essencialmente chamado à comunhão.
A diversidade é riqueza e a unidade é um referencial obrigatório para um êxodo de amor (sair de si, construir pontes num movimento de busca do outro que se consolida na partilha). A diferença, longe de ser uma ameaça, apresenta-se como uma possibilidade que desafia e enriquece, vitaliza, desinstala e renova.
Os conflitos podem ser lidos na ótica de possibilidades novas e inusitadas para um crescimento recíproco: pedras que se chocam, se lapidam. Não existe, no plano de Deus, o achatamento empobrecedor da repetição automática: os clones destroem a sacralidade inquestionável de ser pessoa, ou seja, um alguém único e irrepetível. A diferença dos sexos não afeta esta igualdade de dignidade entre homem e mulher; tal diferença estava na mente de Deus em ordem à complementaridade. "A verdade é que toda história humana, se partilhada com outra pessoa como um ato de amor, alarga a mente e aquece o coração desta pessoa". Um é chamado a precisar do outro para se auto-definir, descobrir-se e para ajudar a construir, enriquecer o outro. É um movimento em via de mão dupla. E nesta linha de raciocínio nós entendemos o que Deus pensa da família.
(Texto dividido em 4 partes para melhor compreensão)

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