(Texto dividido em 4 partes para melhor compreensão)
E quando é que compreenderemos a realidade
da família como Igreja? O princípio da atração
e do amor do homem pela mulher e vice-versa brota de um mistério
muito grande. Diz S. João Crisóstomo: "Pois
Cristo formou a Igreja de seu lado traspassado, assim como
do lado de Adão foi formada Eva, sua esposa. (...).
E assim como Deus abriu o lado de Adão enquanto ele
dormia, também Cristo nos deu a água e o sangue
durante o sono de sua morte". Por isso, S. Paulo afirma
que este mistério é grande e o matrimônio
não se reduz a uma parceria de partilha da companhia
do outro enquanto parceiro (a), mas brota do mistério
da relação entre Cristo e sua Igreja (cf. Ef
5,32).
A família enquanto célula da
sociedade é, por desejo de Deus, chamada a ser uma
célula eclesial, uma igreja doméstica, uma igreja
de casa, uma casa que se torna uma pequena igreja. É
assim que a Igreja será uma grande família:
se as famílias forem realmente igrejas; igrejas vivas,
atuantes, fermentadas pelo amor traduzido em comunhão,
celebrando e cultivando a vida, acolhendo o mistério
da Trindade-Comunidade para irradiá-lo no testemunho
ao mesmo tempo humilde e corajosamente generoso.
A sociedade atual, tão marcada pelo
individualismo, pelo utilitarismo, pelo materialismo, pelo
hedonismo, pela perda do sentido dos valores morais, pelo
medo e pela relativização dos compromissos definitivos,
pelo neo-paganismo tem deixado seus efeitos nefastos e corrosivos
na realidade familiar. Os jovens se encontram diante de uma
variedade de propostas de modelos contrastantes. O pluralismo
não permite um quadro unitário de valores. Porém,
não será impossível à graça
divina fazer acontecer este milagre da comunhão e do
amor à serviço da vida.
Jesus crescia sob os olhares atentos e amorosos
de José e de Maria "em sabedoria, estatura e em
graça, diante de Deus e diante dos homens" (Lc
1,52). E isso na simplicidade impressionante e aparentemente
sem valor da realidade monótona e obscura de Nazaré.
Também hoje, estes reflexos luminosos e transfiguradores
do mistério do Verbo eterno na sua vida oculta precisa
acontecer nas crianças e nos jovens. E para assisti-los,
o Senhor quer encontrar continuadores nos homens e mulheres
de boa vontade, assim como Ele encontrou Maria e José.
A igreja doméstica, apesar de tudo e de todos, continuará
sendo uma resposta do Deus Trindade para um problema: "não
é bom que o homem esteja só" (Gn 2,18).
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