segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Entendendo melhor à liturgia

CURSO DE LITURGIA


A liturgia é a realidade mais viva e a expressão mais eloqüente da vida da Igreja.
Por intermédio da liturgia, a Igreja enuncia sua identidade reconhecida, sua mesmidade renovada. Na liturgia, a Igreja faz a experiência do seu ser e do seu existir. A liturgia é a
própria Igreja em sua mais densa relação simbólica com Deus e com a sua identidade. A liturgia é, e continuará a ser, o símbolo mais rico da vida cristã, a mais original forma de que os crentes dispomos para falar de salvação que nos foi dada, a esperança que nos inunda.
O Vaticano II e a reforma litúrgica por ele desencadeada têm sido os principais motivos de uma nova consciência litúrgica, cuja consolidação está prestes a se produzir.
Os diferentes “movimentos” e “correntes de opinião” litúrgica pós-vaticano (dessacralização-secularização, socialização-politização, evangelização-catequização, adaptação-criatividade, simbolismo-festa, intimismo-experiência, ecumenismo-unidade...) sem dúvida contribuíram para um melhor discernimento, uma maior riqueza de sentido, das dimensões e exigências da celebração.
Sendo a liturgia ao mesmo tempo “humana e divina” ( SC 2), é importante, em relação à sua compreensão, estudá-la antes de tudo na palavra de Deus, norma de fé e de vida, e na tradição que esta palavra transmite integralmente. É importante também um
estudo histórico-genético das formas de celebração litúrgica, para compreender a sua estrutura e seu significado, e as eventuais degenerações ou enriquecimentos que passou no decorrer do tempo. Os textos bíblicos e eucológicos usados pela liturgia são a
manifestação mais característica da concepção que a Igreja tem a respeito da liturgia e do seu mistério. Estes textos exprimem uma determinada visão teológica dos dons da salvação dos quais a Igreja é portadora, uma teologia litúrgica que é preciso fazer emergir.
Tudo isto deve conduzir à experiência de fé e à vida vivida em coerência com os mistérios dos quais participamos. A liturgia é uma realidade para ser redescoberta, celebrada e vivida.


I – O TERMO LITURGIA
O termo liturgia, hoje clássico e consagrado pelo magistério solene, é, no entanto, de uso bastante recente no Ocidente: quase não o encontramos nas atas oficiais da Igreja antes do século XX.
Na Igreja grega, o termo liturgia tem uma acepção restrita e precisa: designa exclusivamente a missa e seus diversos formulários. É verdade que para os autores eclesiásticos dos primeiros séculos, sobretudo no Novo Testamento e nos Setenta, liturgia significava já de preferência o serviço de Deus, o culto, sem excluir, contudo, sentidos menos precisos como o de sacrifício espiritual ou serviços de caridade.
A palavra LIT-URGIA tem sua origem do grego clássico e é composta de duas raízes: Liet – leos – laos: povo, público – ação do povo, obra pública, ação feita para o povo, em favor do povo.
Ergomai (ergom): operar, produzir (obra), ação, trabalho, ofício, serviço...
Traduzindo literalmente leitourghía significa: “serviço prestado ao povo” ou “serviço diretamente prestado para o bem comum”, serviço público.
Antes mesmo de esta palavra ser usada pela Igreja, os gregos a usavam para indicar qualquer trabalho realizado a favor do povo e sempre realizado pelo povo, em forma de mutirão, como temos hoje. Então quando abriam uma estrada, ou construíam uma ponte ou realizavam qualquer trabalho que trouxesse benefício à população, entre os gregos se dizia: realizamos uma liturgia.
Este sentido primeiro da palavra nos ajuda a buscar o que deve ser hoje a LITURGIA CRISTÃ em nossas comunidades, sobretudo depois de séculos de história em que a Liturgia ficou reduzida a uma ação realizada por ministros ordenados (bispo, padre...) para o povo. Era uma ação em que o povo não tomava parte, apenas “assistia” como expectador e, muitas vezes, sem compreender o que estava sendo feito.
Graças ao Concílio Vaticano II, realizado há mais de quatro décadas, voltamos ao sentido genuíno da Liturgia, como AÇÃO do povo batizado e, por isso todo ele SACERDOTAL, chamado ao louvor de Deus e à transformação e santificação da vida e da
história. Uma ação conjunta em parceria com o próprio Deus, numa dinâmica de aliança e participação cada vez mais “ativa, consciente, plena e frutuosa”.


Obs: (Este texto faz parte de um curso litúrgico. Em breve publicaremos a sequência.)

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