Autor: Prof. VICTOR HUGO NASCIMENTO
Filósofo e Teólogo.
Professor das Escolas de fé e catequese Luz e Vida e Mater Ecclesiae - RJ
Contato: victorbento.30@globomail.com
Filósofo e Teólogo.
Professor das Escolas de fé e catequese Luz e Vida e Mater Ecclesiae - RJ
Contato: victorbento.30@globomail.com
Esta Palavra, portanto, tem valor sacramental uma vez que ela confirma a presença transcendente do Pai. Sua ação na natureza é um rastro da ação de Deus na história. Por ser uma Palavra criadora e reveladora, apresenta-se como sustentadora de toda a obra da criação. Em Deus coincidem Palavra e obra. As coisas não somente procedem da Palavra divina, mas vivem por causa desta Palavra: “não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4,4; Dt 8,3).
A Palavra de Deus, entendida como Sabedoria divina, se produz no seio da Trindade e se exterioriza na criação, na história dos homens, e especialmente na encarnação, plenitude da história salvífica (Gl 4,4). Toda a força e virtude da Palavra de Deus se manifesta sobre tudo na missão de Jesus Cristo, Verbo feito carne (Jo 1,1; 1 Jo 1,1s). Como Palavra vinda de Deus, Cristo foi enviado ao mundo como mensagem revelatória da face oculta da divindade. Sua missão é bifacetada: Cristo é a proclamação da Palavra de Deus e realização de uma obra, realidades intimamente unidas entre si. “As multidões vinham para ouvi-lo e ser curadas de suas enfermidades” (Mt 9,35), suas palavras são seguidas e confirmadas por suas obras. Jesus é o cumprimento das profecias. Ele leva a cabo a Palavra de Deus.
A missão de Cristo é a de proclamar o Reino de Deus. O conteúdo de sua pregação é vital, público e solenemente proclamado; exige dos seus ouvintes uma radical decisão, uma conversão profunda no modo de pensar e de se relacionar dos homens entre si e com Deus. Sua pregação, feita em nome de Deus, é testemunhada por poderosos milagres, para ratificar que Ele é mediador entre Deus e os homens (Hb 8,6), e por isto foi constituído para sempre sacerdote e sacrifício para destruir o pecado do gênero humano (cf. Hb 9,29; 7,24.27). Suas Palavras e seus atos são salvífico. A Palavra de Deus pela encarnação se torna palavra redentora, e assim, Palavra sacramental.
Jesus Cristo é visivelmente o Messias, o Ungido do Senhor (Ex 30,22; Lc 2,26), e “quem O viu, viu o Pai” (Jo 14,9b), porque “ele é a imagem do Deus invisível” (Cl 1,15a). Aquele que ouve Sua Palavra e a põe em prática pela caridade, torna-se com Ele e n’Ele, Filho de Deus, imagem e semelhança divinas (Mt 7,24; Gn 1,26a). Deste modo, Jesus é sinal sacramental da presença do Deus criador. É n’Ele que se manifesta um novo tempo, o tempo que oferece em plenitude a graça da salvação prometida por Deus (Gn 3,15), cujas Palavras são irrevogáveis e que cumpre o que diz (Is 31,2; 45,23).
Os Apóstolos receberam a mesma missão de Cristo. Jesus “os enviou a pregar o reino de Deus e a curar os enfermos” (Lc 9,2), depois de dar-lhes “poder e autoridade”. A Palavra de Deus continua se realizando na medida em que é confirmada pelas obras dos Apóstolos. “Eles saíram a pregar por toda parte, agindo com eles o Senhor, e confirmando a Palavra por meio dos sinais que a acompanhava” (Mc 16,20). A proclamação da Palavra de Deus é a primeira tarefa do ministério da Igreja e, junto com a Palavra, a tarefa da obra, transformada em ação cultual, na fração do pão (At 2,42). A primordial ação pastoral dos Apóstolos e, consequentemente da Igreja, é o ministério da Palavra de Deus (At 6,4), de modo que, quem os recebe, recebe a Cristo e quem O recebe, recebe a quem O enviou (cf. Mt 10,40).
A Palavra que Jesus Cristo trouxe de junto do Pai está nos Apóstolos com a mesma força com que está neles o poder de fazer milagres. Logo, toda palavra e obra de Cristo, devido à missão e ao envio, devem estar presentes de algum modo na palavra e ação dos Apóstolos. A Palavra de Deus tem um caráter sacramental enquanto é uma Palavra selada pelo sacrifício da nova Aliança ou enquanto é, como encarnação, parte integrante da redenção do Salvador. Em seu ministério profético da Palavra de Deus, a Igreja anuncia a obra da redenção, fazendo todas as coisas em memória de Cristo, até que Ele venha (Lc 22,19; 1 Cor 11,25; Ap 22, 7.12.20b).
O ministério profético da Igreja é trifásico, compreendido pela evangelização, pela catequese e pela homilia. A Igreja se constitui através destas etapas da pregação da Palavra de Deus e se apresenta ao mundo como porta-voz dos mistérios da salvação. A Igreja vive pela Palavra e A faz ser viva no coração dos homens do mundo inteiro. O mundo é atingido pela Palavra de Deus através da Igreja. Ela, assim como Cristo Jesus, visibiliza o rosto velado do Pai. Sua missão é continuar a obra salvífica de Cristo no mundo presente, fazendo-se não só representante do Senhor, mas primordialmente Sacramento visível de Sua divina presença.
Através da evangelização dos povos, em estado de permanente missão, a Igreja anuncia de forma ‘kerygmática’ a boa nova da salvação. Nesta fase, suscita-se a fé e uma adesão pessoal a Cristo e Seu Evangelho. Espera-se do evangelizado uma resposta de conversão sincera em vista ao recebimento do Batismo. É a partir desta fase que se fundam as comunidades cristãs, reunindo os que, aceitando o modo de vida cristã, se reúnem sob a Palavra do Senhor principalmente na Eucaristia. Para que os homens possam chegar a Liturgia é necessário que antes sejam chamados à fé e à conversão. Destarte, o Sacramento não é para converter, mas para os convertidos. Para tanto há uma etapa de aprofundamento do “kerygma”, a catequese, quando então são apresentados os símbolos da fé.
A tarefa da catequese é desenvolver os conteúdos no primeiro anúncio da evangelização. Paulatinamente o catequizando vai sendo iluminado pela sabedoria do Evangelho, ao passo que interioriza progressivamente todos os aspectos que o cristianismo possui. É neste período que a Igreja anuncia a sua doutrina com o intento de fazer penetrar no coração dos convertidos os símbolos da fé católica, sob os quais a identidade cristã é formada. O anúncio catequético insere o cristão no contexto celebrativo-sacramental, uma vez que o fiel já experimentou a Cristo na comunidade cristã.
A terceira forma do ministério profético eclesial é a homilia. No contexto sacramental a Palavra de Deus é sacralizada e anunciada de forma velada nas palavras humanas do celebrante. A pregação catequética sintetiza as fases anteriores, objetivando o amadurecimento da fé e da caridade, através de uma animação missionária e explicação catequética. A homilia aprofunda os batizados no mistério de Cristo liturgicamente celebrado.
A ação evangelizadora da Igreja se dá pela visibilização de Cristo em seu seio. Ela é portadora e sustentáculo da Verdade revelada. Na medida em que anuncia esta Verdade de forma profética, realiza no meio dos homens a Obra salvífica de Cristo, pois a Palavra tem caráter sacramental e o Sacramento, caráter de proclamação.
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