quarta-feira, 11 de maio de 2011

Maio - Mês Mariano

Ao longo da História, foram poucas as mulheres que romperam com o preconceito e conseguiram participar efetivamente dos fatos e acontecimentos significativos de seu tempo, alcançando seus objetivos e ganhando o devido reconhecimento. Maria foi uma dessas mulheres, senão, a principal delas.
Ainda muito jovem, ficou noiva de José, um homem honesto e bem mais velho do que ela, que não tardaria em tomá-la como esposa. Vivendo em uma sociedade judaica que estava sob a dominação dos romanos, onde a mulher pouco ou quase nada valia, esta jovem percebe, em um momento de inconfundível beleza, a presença de Deus em sua vida. E Deus a convida para ser a mãe de seu Filho predileto, Jesus Cristo, que assumiu a condição humana e veio ao mundo para nos ensinar que o amor é o único caminho que, verdadeiramente, nos leva à felicidade.
Maria disse "sim" a Deus e levou este "sim" às últimas conseqüências. Por ação direta e exclusiva do Espírito Santo, ficou grávida antes de se casar e correu o risco de ser apedrejada, conforme mandava a lei daquela época. Suportou a desconfiança de seu esposo; suportou as dificuldades inerentes à pobreza; suportou a perseguição de homens poderosos e cruéis, como Herodes, que tentou matar Jesus ainda quando criança. Por fim, suportou a dor de ver seu Filho inocente ser condenado, cruelmente agredido e crucificado. Suportou tudo isso sem perder a fé, a confiança, a dignidade e a esperança em seu Deus. Suportou tudo por amor, já que o amor tudo suporta (1°Coríntios 13,7). Suportou tudo em silêncio. Silêncio que não significa covardia e omissão, mas que se traduz em serviço constante, em humildade, em entrega total e absoluta ao papel que lhe havia sido reservado por Deus na história da humanidade. Em silêncio Maria viveu sua opção por Cristo. E, agindo assim, deu exemplo de fé, de coragem, de conversão autêntica, de adesão absoluta ao plano de Deus para a salvação dos homens. Ao mesmo tempo iniciou uma luta pelo resgate da dignidade da mulher, perdida em meio aos abusos de uma sociedade patriarcal, preconceituosa e machista. Essa luta sobreviveu até hoje e se fortaleceu ao longo de inúmeras gerações. Muitas vitórias já foram conquistadas. Entretanto, muita coisa precisa melhorar.
Existem no mundo milhões de "Marias" que, a despeito de toda a evolução política, econômica, social e tecnológica, ainda não conseguiram um local digno para morar, assistência médica eficiente, emprego e salários compatíveis com suas necessidades, respeito profissional e igualdade de direitos e deveres em relação aos homens. A mulher segue sendo marginalizada, discriminada e explorada. Muitas ainda comercializam seus corpos e até mesmo seus filhos para conseguirem um mísero pedaço de pão.
Ao dizer a Deus "Faça-se em mim segundo a vossa palavra", Maria revolucionou a História. Em seu silêncio, disse mais do que ninguém que é preciso lutar constantemente pelo estabelecimento da justiça, da paz, da liberdade, da fraternidade e da igualdade em nosso mundo. Ao abrir seu coração a Cristo, ela rompeu com as barreira do egoísmo humano e nos ensinou que é preciso amar a todos, independente da raça, da cor da pele e do sexo.
Apesar de todo o sofrimento que vivenciou, Maria tornou-se uma mulher vitoriosa e feliz. Nós a chamamos de bendita e bendizemos também a seu Filho, Jesus, que num gesto de amor, fez com que ela se tornasse mãe de todos nós (João 19, 25-27).
Em maio, o desabrochar das flores manifesta com originalidade e beleza o milagre da vida. A tradição católica escolheu este período do ano para venerar com especial devoção a Maria, que, com simplicidade e fidelidade inimitáveis, vivenciou os ensinamentos de Cristo, caminho, verdade e vida. Rezemos com fé renovada a Ave Maria, oração que exprime com perfeição o mistério da serva bem-aventurada de Deus.

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Cardeal D. EUSÉBIO OSCAR SCHEID
Arcebispo Emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro

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