terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Entendendo melhor à liturgia - 4ª parte


3 - Os critérios da reforma litúrgica




Após ter esclarecido a natureza e as características essenciais da liturgia da Igreja, O Sacrosanctum Concilium enfrenta o problema da reforma propriamente dita da liturgia (nn. 21-40). Os critérios que inspiraram esta reforma se apoiam antes de tudo num dado fundamental de natureza teológica, corroborado também pelo estudo da evolução histórica das formas cultuais: “Pois a Liturgia consta de uma parte imutável, divinamente instituída, e de partes
suscetíveis de mudança. Estas com o correr dos tempos, podem ou mesmo devem variar, se nelas se introduzir algo que não corresponda bem à natureza íntima da própria liturgia, ou se
estas partes se tornarem menos aptas”(SC n.21).
Uma vez estabelecido este dado principal, o documento conciliar passa a indicar os critérios que devem guiar o encaminhamento da reforma.
a) Inteligibilidade dos textos e dos ritos por parte dos fiéis
Este princípio deve, porém, harmonizar-se com o caráter mistérico da mesma liturgia,
ligada intimamente ao objetivo revelado, e portanto à palavra de Deus. Dessa consideração derivam a abertura de uma parte mais ampla para a língua vulgar, mais leituras da Escritura, a sonhada simplicidade e linearidade da celebração, a funcionalidade do ambiente no qual se desenvolve a ação litúrgica e a necessidade de uma iniciação adequada ao sinal litúrgico.
b) Ligação ente tradição e progresso
A íntima relação entre tradição e liturgia exige, num mundo em contínua transformação, que “as novas formas, de um certo modo, brotem como que organicamente daquelas que já existem”(SC n.23). A Igreja não inventa sempre ex toto novas forma litúrgicas e novos ritos, mas os renova e recria no sulco da sua tradição.
c)Dimensão eclesial da celebração“As ações litúrgicas não são ações privadas, mas celebrações da Igreja, que é o sacramento da unidade, isto é, o povo santo, unido e ordenado sob a direção dos bispos” (SC n.26).
Deste caráter comunitário-hierárquico da liturgia, como também do fato que ela sempre é celebrada no seio de uma comunidade local concreta, derivam alguns corolários para a atuação da reforma; especialmente: a preferência da celebração comunitária, a exigência de uma participação plena, consciente e ativa dos fiéis, a necessidade da adaptação da liturgia, não somente a índole e às tradições dos vários povos, mas também às circunstâncias de cada
assembléia particular.
d) Competência da hierarquia na reforma
O Sacrosanctum Concilium, embora reafirmando o princípio de uma unidade substancial e da centralização, estabelece que sejam delegados vários poderes no campo litúrgico às conferências episcopais nacionais e a cada bispo, naquilo que interesse diretamente cada nação e cada diocese (SC n.22).
O Vaticano II volta, pelo menos em parte, à situação anterior ao Concílio de Trento, que atribuía, em certos aspectos e em alguns pontos, aos bispos a responsabilidade pela celebração, pela sai regulamentação e pela sua execução.


Obs: (Este texto faz parte de um curso litúrgico. Em breve publicaremos a sequência.) 

domingo, 29 de janeiro de 2012

Entendendo melhor à liturgia - 3ª parte


 – A LITURGIA NOS DOCUMENTOS DA IGREJA


1 – O Sacrosanctum Concilium
Introdução
O Sacrosanctum Concilium tem o seu modo característico de tratar o discurso sobre liturgia. O argumento litúrgico não aparece como a conclusão de um discurso sobre a natureza do culto sob o aspecto genericamente religioso, e sobre as formas da sua atuação. Ao abandonar este método de reflexão, até então seguido de forma geral, o Sacrosanctum Concilium situa a liturgia no contexto da revelação, como “história de salvação”. A obra da salvação, continuada pela Igreja, se realiza na liturgia (cf. SC n.6). Desta forma a liturgia se apresenta como verdadeira “tradição”, ou seja, transmissão do mistério salvífico de Cristo através de um rito, de
uma forma sempre nova e adequada à sucessão dos tempos e à diversidade de lugares. As que denominamos “tradições” litúrgicas são consideradas da forma que realmente são: interpretações
do rito, condicionadas, ao menos em parte, pelo tempo e lugar que surgiram. Desta consideração resultam a legitimidade e a necessidade da atualização litúrgica.
Se a Igreja tem a obrigação de conduzir os homens de todos os tempos à salvação, isto
implica a capacidade de a própria Igreja aceitar e adaptar-se às mutações da história.
A visão “estático-jurídica” é superada, direcionando a liturgia para uma perspectiva dinâmico-teológica: a liturgia é considerada sobretudo como a própria ação de Cristo no seu Corpo que é a Igreja (SC n.7). Cristo é o agente principal no rito e com o rito. Volta-se assim à linha original da liturgia, que é sacramental e que continua o mistério de Cristo na forma de mistério cultual.
 O Sacrosanctum Concilium se posiciona decididamente num plano teológico. O interesse do documento se concentra não nos ritos em si, mas no conteúdo de fé que eles devem exprimir. Pela primeira vez um Concílio enquadrou as liturgia numa perspectiva estritamente teológica e a resgatou de um simples e limitado ritualismo.
 O SC foi aprovada na aula conciliar do dia 4 de dezembro de 1963. Foi o primeiro
documento promulgado pelo Vaticano II.


1 - Objetivos da Reforma


Os objetivos desta reforma litúrgica estão na introdução do documento:
a)Fomentar mais a vida cristã entre os fiéis.
b)Acomodar melhor às necessidades de nossa época as instituições que são suscetíveis
de mudanças.
c)Favorecer tudo o que possa contribuir para a união dos que crêem em Cristo.
d)Promover tudo o que conduz ao chamamento de todos ao seio da Igreja.


2 - Os princípios da renovação litúrgica do Vaticano II


a) O princípio da participação ativa, plena e consciente do povo.
As leis litúrgicas e a própria construção das igrejas foram criando a separação entre o clero e o povo na liturgia.
Nada menos que 25 números do SC falam da necessidade de participação dos fiéis na liturgia (11, 12, 14, 18, 19, 21, 27, 30, 31, 33, 41, 48, 50, 53, 54, 55, 59, 79, 100, 113, 118, 121, 124). Nesses números se fala da participação ativa e frutuosa, consciente, plena, fácil, piedosa interna e externa. Se fala também do dever dos pastores de almas de promover a participação.
b) O princípio da natureza comunitária da liturgia.A natureza da Igreja é ser comunidade. A liturgia é uma ação da Igreja. A assembléia litúrgica é a reunião dos irmãos da mesma comunidade. Os irmãos reunidos em liturgia manifestam de maneira mais concreta e visível a comunidade que eles formam (SC 26,27).
c) O princípio da descentralização na liturgia.
Tudo depende de Roma. Agora o documento diz que o bispo possui autoridade e é o primeiro responsável pela liturgia na sua diocese. O documento também autoriza as Conferências episcopais dispor sobre assuntos de liturgia. Só que faz um alerta para que ninguém, mesmo sacerdote, acrescente, mude ou tire por própria conta alguma coisa da liturgia (SC 22,44).
d) O princípio da adaptação da liturgia.
Tudo dependia de Roma e por isso estava tudo determinado, uniformizado. O número 37 fala da adaptação, mas este item será mais desenvolvido adiante.
A liturgia deixa de ser uma mera execução de um formulário. Ela deverá ser uma contínua celebração adaptada ao povo.
e) O princípio de fidelidade à tradição.
Adaptar não significa desprezar a tradição. Conhecer cada parte da liturgia que vai ser reformada (SC 23).


Obs: (Este texto faz parte de um curso litúrgico. Em breve publicaremos a sequência.) 

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Entendendo melhor à liturgia - 2ª parte


II – DEFINIÇÃO DE LITURGIA


Desde o início do movimento litúrgico (1909) até os nossos dias, a maioria dos autores de manuais tem-se esforçado por dar uma definição de liturgia que resuma em breves palavras a sua natureza e caracteres essenciais. Tarefa tanto mais difícil quanto a liturgia é uma realidade viva, rica e uma ao mesmo tempo; não se compreende a liturgia senão tomando parte nela; dificilmente se deixa encerrar em conceitos: é por isso que ainda nenhuma das definições dadas pareceu satisfatória.
Toda a AÇÃO a favor da vida é LITURGIA, no sentido amplo da Palavra. É participação no serviço libertador de Jesus. Sendo isto Liturgia, será preciso ainda CELEBRAR? Não basta apenas AGIR, lutar a favor da vida para sermos seguidores de Jesus e coerentes com seu evangelho, cuja lei é o AMOR?
O que é mesmo a Liturgia – celebração?  Qual sua importância para a Liturgia-vida?
Celebrar é uma ação comunitária, festiva que tem a ver com tornar célebre, importante, inesquecível, é destacar do cotidiano, é ressaltar o significado, o sentido profundo que um acontecimento ou pessoa tem para um determinado grupo.
Todos temos necessidade vital de celebrar, assim como temos necessidade de pensar, de agir, de nos relacionar, de comer e beber... Como seres humanos, somos essencialmente celebrantes. Em todos os tempos e variadas culturas, os povos encontram
momentos e formas diversas de celebrar para expressar e aprofundar o sentido da vida.
Para celebrar usamos gestos, ações simbólicas, ritos e Palavras que expressam o que pensamos, o que acreditamos, o que desejamos, o que esperamos, o que amamos ou rejeitamos... enfim, a visão que temos da pessoa, do mundo, da sociedade, de Deus... nossas crenças, nossas convicções, nossa identidade como grupo, como povo... É só pensar nos símbolos, gestos, ritos e Palavras que usamos num carnaval, numa festa de aniversário, de casamento, numa Folia de Reis, num batizado.
Na caminhada de fé do povo da Bíblia, encontramos muitos momentos celebrativos. Ao celebrar, o povo de Israel fazia memória das ações que Deus realizara em seu favor no passado, as reconhecia no presente e alimentava a certeza de sua fidelidade no
futuro.
O próprio Jesus quis tornar célebre, inesquecível todo o seu trabalho a favor da humanidade. Ele expressou com a ação simbólica de uma refeição, a CEIA PASCAL, o significado profundo de toda sua vida e missão: “sua Liturgia-vida”.
Ele antecipou com um rito, a doação de sua vida na cruz, preparou-se e preparou seus discípulos para viverem a HORA de entrega e de amor sem limites.
A Liturgia-celebração e a Liturgia-vida foram inseparáveis na vida do povo de Deus, na vida de Jesus, na vida dos primeiros cristãos, assim como devem ser inseparáveis na vida de nossas comunidades.
Celebrar a Liturgia é, portanto, expressar com gestos, símbolos e palavras a Liturgia-vida; é tornar célebre, inesquecível a ação que o Pai realizou em Jesus e através dele a toda a humanidade e continua hoje, em nós e através de nós e de todos que aderem
ao projeto do Reino pela força e animação de seu Espírito.


Obs: (Este texto faz parte de um curso litúrgico. Em breve publicaremos a sequência.)

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Entendendo melhor à liturgia

CURSO DE LITURGIA


A liturgia é a realidade mais viva e a expressão mais eloqüente da vida da Igreja.
Por intermédio da liturgia, a Igreja enuncia sua identidade reconhecida, sua mesmidade renovada. Na liturgia, a Igreja faz a experiência do seu ser e do seu existir. A liturgia é a
própria Igreja em sua mais densa relação simbólica com Deus e com a sua identidade. A liturgia é, e continuará a ser, o símbolo mais rico da vida cristã, a mais original forma de que os crentes dispomos para falar de salvação que nos foi dada, a esperança que nos inunda.
O Vaticano II e a reforma litúrgica por ele desencadeada têm sido os principais motivos de uma nova consciência litúrgica, cuja consolidação está prestes a se produzir.
Os diferentes “movimentos” e “correntes de opinião” litúrgica pós-vaticano (dessacralização-secularização, socialização-politização, evangelização-catequização, adaptação-criatividade, simbolismo-festa, intimismo-experiência, ecumenismo-unidade...) sem dúvida contribuíram para um melhor discernimento, uma maior riqueza de sentido, das dimensões e exigências da celebração.
Sendo a liturgia ao mesmo tempo “humana e divina” ( SC 2), é importante, em relação à sua compreensão, estudá-la antes de tudo na palavra de Deus, norma de fé e de vida, e na tradição que esta palavra transmite integralmente. É importante também um
estudo histórico-genético das formas de celebração litúrgica, para compreender a sua estrutura e seu significado, e as eventuais degenerações ou enriquecimentos que passou no decorrer do tempo. Os textos bíblicos e eucológicos usados pela liturgia são a
manifestação mais característica da concepção que a Igreja tem a respeito da liturgia e do seu mistério. Estes textos exprimem uma determinada visão teológica dos dons da salvação dos quais a Igreja é portadora, uma teologia litúrgica que é preciso fazer emergir.
Tudo isto deve conduzir à experiência de fé e à vida vivida em coerência com os mistérios dos quais participamos. A liturgia é uma realidade para ser redescoberta, celebrada e vivida.


I – O TERMO LITURGIA
O termo liturgia, hoje clássico e consagrado pelo magistério solene, é, no entanto, de uso bastante recente no Ocidente: quase não o encontramos nas atas oficiais da Igreja antes do século XX.
Na Igreja grega, o termo liturgia tem uma acepção restrita e precisa: designa exclusivamente a missa e seus diversos formulários. É verdade que para os autores eclesiásticos dos primeiros séculos, sobretudo no Novo Testamento e nos Setenta, liturgia significava já de preferência o serviço de Deus, o culto, sem excluir, contudo, sentidos menos precisos como o de sacrifício espiritual ou serviços de caridade.
A palavra LIT-URGIA tem sua origem do grego clássico e é composta de duas raízes: Liet – leos – laos: povo, público – ação do povo, obra pública, ação feita para o povo, em favor do povo.
Ergomai (ergom): operar, produzir (obra), ação, trabalho, ofício, serviço...
Traduzindo literalmente leitourghía significa: “serviço prestado ao povo” ou “serviço diretamente prestado para o bem comum”, serviço público.
Antes mesmo de esta palavra ser usada pela Igreja, os gregos a usavam para indicar qualquer trabalho realizado a favor do povo e sempre realizado pelo povo, em forma de mutirão, como temos hoje. Então quando abriam uma estrada, ou construíam uma ponte ou realizavam qualquer trabalho que trouxesse benefício à população, entre os gregos se dizia: realizamos uma liturgia.
Este sentido primeiro da palavra nos ajuda a buscar o que deve ser hoje a LITURGIA CRISTÃ em nossas comunidades, sobretudo depois de séculos de história em que a Liturgia ficou reduzida a uma ação realizada por ministros ordenados (bispo, padre...) para o povo. Era uma ação em que o povo não tomava parte, apenas “assistia” como expectador e, muitas vezes, sem compreender o que estava sendo feito.
Graças ao Concílio Vaticano II, realizado há mais de quatro décadas, voltamos ao sentido genuíno da Liturgia, como AÇÃO do povo batizado e, por isso todo ele SACERDOTAL, chamado ao louvor de Deus e à transformação e santificação da vida e da
história. Uma ação conjunta em parceria com o próprio Deus, numa dinâmica de aliança e participação cada vez mais “ativa, consciente, plena e frutuosa”.


Obs: (Este texto faz parte de um curso litúrgico. Em breve publicaremos a sequência.)

domingo, 22 de janeiro de 2012

ANO DA FÉ: Tempo Propício




Dom Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)



                 Sua Santidade, o Papa Bento XVI, decidiu proclamar um “Ano da Fé”. Começará no dia 11 de outubro de 2012, no cinquentenário da abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II, e aniversário de vinte anos da publicação do Catecismo da Igreja Católica, e terminará na Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, no dia 24 de novembro de 2013. Nesse mesmo mês estaremos vivendo mais um Sínodo dos Bispos, cujo tema será sobre a Nova Evangelização.
Todos nós, os católicos, devemos participar desse ano com “todo seu coração, com toda sua alma e com todo seu entendimento”  (Mt 22,37). Mas qual é o sentido do Ano da Fé? A fé ainda tem espaço em nossa cultura secularizada? Em um mundo cheio de misérias, fome, guerras, onde Deus parece não ter lugar e nem vez, não seria uma alienação proclamar um Ano da Fé? Para que serve a fé?
Esses e outros interrogantes são propostos aos cristãos. Respondê-los se faz necessário para todos os que desejam viver sua fé com consciência, e não apenas como uma herança de seus pais e avós esquecida e guardada em um canto perdido da própria vida, e que não possui nenhuma incidência concreta no modo de viver, pensar, ser e relacionar-se.
O cristão diante dessa problemática não se cala e nem deve se calar. Devemos descobrir na oração os desígnios de Deus e dar respostas adequadas. Gostaria de convidá-los a percorrer comigo um itinerário que nos leve a descobrir o significado, importância e necessidade do Ano da Fé.
a.    O Ano da Fé significa agradecer
O ser humano, em seu estado natural, possui inteligência e vontade com potencialidades infinitas. A beleza que surge das mãos dos homens é um reflexo da beleza que surge das mãos do Criador. No entanto, não quis Deus que o homem permanecesse apenas em seu estado natural e nos deu o dom da fé.
O dom da fé e da graça eleva o homem ao estado sobrenatural, somos filhos de Deus (1Jo 3,1). Neste estado podemos dizer com São Paulo “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gal 2,20). O estado sobrenatural não está em conflito com o estado natural. A graça não destrói a natureza, a supõe, eleva e aperfeiçoa.
A fé nos eleva a uma condição superior, mas não de superioridade. É na vivência profunda da fé que o homem se encontra completamente consigo mesmo e com o outro, e realiza plenamente a vocação a que foi chamado.
Cristo é nosso Senhor e nos convida a contemplar o mundo e seus irmãos com novos olhos. A fé, bem acolhida e cultivada, nos oferece uma lente que permite perceber a realidade com o coração de Deus. Por isto, o cristão não é indiferente aos assuntos do mundo. O sofrimento e a dor que assolam a humanidade devem ser sentidos, sofridos e compadecidos com maior intensidade por aqueles que se declaram apóstolos de Cristo. É com o amor de Deus que amamos o mundo.
A fé não é alienação, ao contrário, é trazer ao mundo um pouco do divino, é lapidar a beleza da criação muitas vezes escondida pela nuvem do pecado. A verdadeira alienação é não acolher, cultivar e promover o dom da fé. A busca de infinito que permeia o coração humano encontra nela seu porto seguro, pois somente através desse magnífico dom descobrimos quem realmente somos. Como dizia Santo Agostinho: “Fizeste-me para Ti, Senhor, e o meu coração inquieto está enquanto não descansa em Ti” (Confissões, l.1, n.1). Elevemos todos uma oração de agradecimento a Deus pelo dom da Fé que nos enriquece, fazendo-nos mais humanos e filhos de Deus.
b.    No Ano da Fé é necessário dar razões


São Pedro, em sua epístola, nos convida a dar razões de nossa esperança. “Estai sempre prontos a responder para vossa defesa a todo aquele que vos pedir a razão de vossa esperança, mas fazei-o com suavidade e respeito.” (1Pe. 3,15)

Não basta celebrar. A verdadeira ação de graças ao Senhor exige que desenvolvamos o dom recebido. A fé é a resposta que o coração humano naturalmente anseia encontrar. No entanto, o dom da fé não exclui a necessidade de utilizar o dom da razão para compreender melhor os mistérios revelados por Deus, de fazê-los compreensíveis e acessíveis ao homem em cada momento histórico. Existe a inteligência da Fé que deve ser, unida à luz da graça, desenvolvida a fim de que cada cristão possa aderir com maior liberdade às verdades reveladas.
Só a partir de uma livre, consciente e renovada adesão à própria fé haverá plena responsabilidade na vivência e testemunho desse dom. É aqui onde dom e resposta, graça divina e liberdade humana devem se dar as mãos para que a fé possa cair em terra fértil, semear e dar frutos em abundância.
Esforcemo-nos por conhecer profundamente a fé que professamos. Criemos grupos de estudos e reflexão, estudemos nossa história. Possuímos um instrumento maravilhosamente privilegiado para esta finalidade: o Catecismo da Igreja Católica, que se apresenta também no formato de compêndio e no formato para jovens, o YouCat, lançado na Jornada Mundial da Juventude em Madri. Todos são fontes riquíssimas para alimentar nossa alma e nossa inteligência. Temos também o Compêndio da Doutrina Social da Igreja, os documentos do Concilio Vaticano II, as encíclicas papais e, acima de tudo, a Sagrada Escritura.
Utilizemos as ferramentas que a sociedade moderna nos oferece para nos atualizarmos, conhecermo-nos e encontrarmo-nos. É louvável a iniciativa de diversos grupos de jovens que, na impossibilidade de encontrar-se fisicamente com frequência, utilizam os bate-papos, os grupos que as diversas mídias sociais oferecem. Desejo, vivamente, que estes grupos se multipliquem. É importante que estejam guiados por uma pessoa ou que tenham um moderador ou consultor com conhecimentos filosóficos e teológicos, que iluminem e ajudem a entender melhor a própria fé.
Pelo batismo, somos, desde já, cidadãos do Céu, mas devemos ser conscientes dessa tão alta dignidade. Não devemos nos acanhar diante dos desafios que o mundo apresenta. A Igreja não possui apenas dois mil anos de história, mas ela e, consequentemente cada um de nós que estamos em comunhão com a Igreja, possuímos a assistência do Logos Divino, da sabedoria eterna, que nos é dada através dos dons do Espírito Santo. Não devemos ter medo de dialogar com o mundo contemporâneo. É nossa missão evangelizar a cultura. Como afirma Bento XVI, "a Igreja nunca teve medo de mostrar que não é possível haver qualquer conflito entre fé e ciência autêntica, porque ambas, embora por caminhos diferentes, tendem para a verdade."(Porta Fidei, n. 12). Sejamos os promotores da Verdade na caridade, e da caridade na Verdade.
c.    No Ano da Fé é importante proclamar
Bento XVI, com muita sabedoria, alerta que muitos cristãos sentem "maior preocupação com as consequências sociais, culturais e políticas da fé do que com a própria fé, considerando esta como um pressuposto óbvio da sua vida diária." (Porta Fidei,2) Diante dos desafios que nos apresentam a sociedade secularizada, nossa primeira reação é lançar-nos a fazer algo.
Desejamos, justificadamente, e nos esforçamos, com boas intenções, por unir pessoas, grupos e entidades para combater aquilo que consideramos como nocivo ao cristianismo e à humanidade.
Considero importantes todas as iniciativas que visam promover nossa fé e incidir positivamente na sociedade e que contenham o avanço do mal que se alastra em nossa cultura. Mas, o que seriam dessas iniciativas de luta e de força, de combate e embate sem a fé? Não vejo os primeiros cristãos se conjurando para dominar as instituições através da força e do poder. A ação mais importante e fecunda de nossos primeiros irmãos foi, a partir de experiência que nasce do encontro pessoal com Cristo, testemunhar com a própria vida que Deus existe. Os pagãos se sentiam atraídos pela beleza da fé católica e pela caridade com que viviam os primeiros cristãos, e chegavam a exclamar: “Vede como se amam” (Tertuliano, Apol.,39).
É na caridade, na alegria, no entusiasmo e na felicidade da vivência de nossa fé que iremos permear o mundo da esperança e do amor cristão. É no respeito, no diálogo aberto, sincero e inteligente que construiremos pontes entre a Fé e o mundo contemporâneo. Já existem muitos muros! Aprendamos a difícil arte de escutar, entender, compreender e defender sem medo nossa fé, com serenidade e respeito.
A evangelização e nossas ações sociais só produzirão efeito a partir do momento em que cada cristão tiver um encontro pessoal com Cristo. Nossa fé não é fruto de uma decisão, mas de um encontro, e só a partir desse encontro nossa evangelização será uma luz que atrai por sua beleza divina.
Onde se realiza esse encontro? Não se é cristão sozinho. O ser humano é um ser social por natureza. É na comunidade de fé e na Igreja, como custódia dos sacramentos de Cristo, que encontraremos, renovaremos e promoveremos nossa fé. Só podemos nos dizer plenamente cristãos se encontrarmos nossos irmãos na oração, na eucaristia e na reconciliação. Sem comunidade não há família cristã. É através do mistério do Corpo Místico de Cristo onde toda a Igreja se encontra. É na liturgia e nos sacramentos que toda ação tem sentido. "Sem a liturgia e os sacramentos, a profissão de fé não seria eficaz, porque faltaria a graça que sustenta o testemunho dos cristãos." (Porta Fidei, n.11)
É na vivência comunitária de nossa Fé que encontramos o amor de Cristo. «Caritas Christi urget nos – o amor de Cristo nos impele» (2 Cor 5, 14). Sua Santidade afirma que “é o amor de Cristo que enche os nossos corações e nos impele a evangelizar. Hoje, como outrora, Ele envia-nos pelas estradas do mundo para proclamar o seu Evangelho a todos os povos da terra (cf. Mt 28, 19).” (Porta Fidei, n.7)
O amor de Deus cria! A palavra criação possui a mesma raiz grega da palavra poesia “poietés”. Assim, Deus é o verdadeiro poeta e nós somos um poema de Deus.  Por isso, é impossível não ficar admirando, contemplando o sol que nasce no horizonte, ou a lua cheia que cresce por trás dos montes. A natureza são versos divinos que nos remetem a Deus. Aqui, em nossa cidade maravilhosa, temos o momento e local para aplaudir o pôr do sol. No entanto, afirmo que não há maior milagre e poesia mais bela do que o olhar e o sorriso de um cristão que vive no mundo com coerência, simplicidade e entusiasmo a sua fé.
O católico tocado pela fé é uma das provas e evidências mais fortes da existência de Deus. Quando conheço um cristão coerente, vejo um milagre da criação. Vejo Deus na Terra e percebo que não há trevas que possam invadir um mundo dominado pela luz da fé, pelo sal do testemunho e pelo bálsamo da caridade. Em cada um de nós, de certo modo, se realizam de maneira plena as palavras de Cristo: “Eu estarei convosco todos os dias, até o fim dos tempos (Mt 28,20).
Peçamos a Nosso Senhor Jesus Cristo a graça de viver nossa fé com toda nossa alma, com todo nosso coração e com todo nosso entendimento. Só assim seremos o que temos de ser e transformaremos o mundo. Só em Cristo, por Cristo e com Cristo conseguiremos transmitir os tesouros de nossa fé e incidir positiva e efetivamente na sociedade. Não tenhamos medo de falar daquilo que preenche nosso coração; não tenhamos medo de falar d'Aquele que dá um sentido último às nossas vidas. Subamos nos telhados e nos preparemos para anunciar com amor que o Amor existe, se fez carne e habita em nós e está entre nós.
Preparemo-nos, através da oração, da adoração, da eucaristia, da reconciliação e da missão pessoal e comunitária para o Ano da Fé, que coincidirá, para o nosso júbilo, com a preparação e a realização da JMJ Rio 2013!


                                                                                                                                          Fonte: CNBB

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O indiscritível



Pe. Zezinho, scj




                 Indescritível, inimaginável, o Deus em quem eu acredito, está acima de qualquer palavra, de qualquer raciocínio humano. Indescritível porque não há maneira de, na verdade, descrevê-Lo como Ele realmente é. É como aquela enorme paisagem que, uma pessoa só, não conseguiria descrever porque não vê tudo. Nem ela nem mil pessoas conseguiriam descrever corretamente, porque também elas não veriam tudo. Mesmo se juntassem a sua experiência, ainda não teriam idéia completa da paisagem porque veriam de maneira demasiadamente pessoal, deturpada e limitada. A paisagem ainda esconderia segredos.
Assim é Deus: indescritível. Podemos descrever algumas de suas intervenções na humanidade, alguns dos seus sinais, mas isso ainda não é descrever Deus. Ele é mais do que aqueles sinais. Além de indescritível, Deus é inimaginável. Corremos o risco de fazer imagens erradas e resvalar para os ídolos, quando tentamos fazer imagens de Deus. Isto serve para imagens físicas de madeira, gesso, pedra e aço, serve para as pinturas e serve para as imagens mentais expressas por nossas palavras. Muita gente prega um Deus que não existe e descreve um Deus que está só na sua imaginação e por isso mesmo, insuficiente.
Muita gente cria ídolos de barro, de pedra, de gesso, de ferro, e muita gente cria ídolos de ideias. Adoram o Deus que eles imaginam e do jeito que eles imaginam que Deus seja, mas não do jeito que Deus é. É por isso que existem tantas religiões e tantos pregadores, garantindo que só eles conhecem a verdade sobre Deus. Causam pena pela vaidade que ostentam de saber mais que os outros e pelo estrago que causam nos seus seguidores. Não deixa de ser uma forma de idolatria querer apossar-se do conceito de Deus. É como sentir-se dono da ideia de Deus e não admitir que mais ninguém fale de Deus. Porque ele já sabe e, como ele achou, ninguém mais tem o direito de achar nada. Deus pertence a ele e à sua Igreja. Os demais que se calem.
Indescritível e inimaginável é o nosso Deus. Feliz daquele que é humilde o suficiente para admitir que não sabe quase nada sobre Deus. Já é o começo da sabedoria.

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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Aquela gota de orvalho



Pe. Zezinho, scj







            Era manhã. Acordei ouvindo o canto dos primeiros pássaros nos arvoredos ao redor. Janela aberta, pude ver uma gota de orvalho numa folha, colada ao parapeito. Tremeluzia, refletindo o raio-de-sol que se apresentava tímido.
Fiquei pensando comigo... Deus faz isso todos os dias. E fez mais uma vez. Fiz uma prece ao Criador e disse a mim mesmo: Desde que Deus criou e desde que formou as árvores, Ele as alimenta. Vão buscar seu alimento no fundo da terra, e buscam também a umidade do ar. Vão bebendo e se alimentando para depois me darem os frutos.
Quem criou os frutos? Quem quis a laranja? Quem quis a maçã? Quem quis a pêra? Quem lhes deu aquele gosto peculiar? Por que tanta diversidade? Com que finalidade? É porque havia seres que ele alimentaria.
Quem quis a melancia daquele tamanho? Quem quis a abóbora? Será por acaso que existem abóboras, melancias, mandiocas, laranjas, pêras, maçãs? Quem criou a terra sabia o que queria. Fez a terra girar para a direita e para a esquerda, para o lado, para cima, para baixo, para se banhar o suficiente do calor do Sol e para não ficar gelada por demais e, assim, produzir alimentos.
Quem fez a terra girar na exatidão em que gira, para ter essa temperatura? Quem fez o oceano balançar para frente e para trás com regularidade de milésimos de segundos? Quem fez todos os astros dançarem? Quem, aqui na terra criou o ciclo das águas? Quem criou esta folha e esta gota de orvalho, para que houvesse frutos?
Quem criou tudo isso é muito inteligente. Criou por causa de alguém, porque Deus não come. Eu sou esse alguém. Meu irmão idoso e enfermo, aquela criança arteira são esse alguém que Deus queria alimentar.
Então eu disse a mim mesmo: Deus me deu esta gota de orvalho! Louvado seja Deus que pensa em tudo e sabe porque faz o que faz! Não há nenhuma gota de orvalho que nasça por acaso e se forme por acaso. O objetivo é o alimento que nós homens comeremos. Louvado seja Deus que pensou em todos os detalhes! Deus nos ama!

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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Ano da Fé

Dom Paulo Mendes Peixoto

Bispo de São José do Rio Preto - SP

No dia 11 de outubro de 2011, o Papa Bento XVI, preocupado com a identidade de nossa fé, brindou-nos com uma Carta Apostólica, em forma de Motu Próprio, chamada de “Porta Fidei”, que significa “A Porta da Fé”. Com isto, o Santo Padre está anunciando, em todo o mundo, o “Ano da Fé”.
A data, por ele indicada, começa em 11 de outubro de 2012 e termina em 24 de novembro de 2013. O início coincide com a abertura do Concílio Vaticano II, cinquenta anos passados. A de encerramento comemora os vinte anos da publicação do Catecismo da Igreja Católica, promulgado pelo Papa e Besto João Paulo II.
A fonte de nossa fé é Jesus Cristo e sua Palavra. A Bíblia perpassa todo o itinerário de fé dos cristãos. Mas na caminhada, somos fortalecidos e orientados pelos documentos de autoridade da Igreja. Entre eles podemos destacar a riqueza contida no Concílio Vaticano II e no Catecismo da Igreja Católica.
Com a Carta Apostólica Porta Fidei, a Igreja toda é convocada para uma retomada de caminho. O anúncio da Palavra deve abrir os corações das pessoas para a ação da graça de Deus e a presença transformadora da Trindade Santa, recebida no dia do batismo e revigorada através do outros sacramentos.
O papa retoma o tema da alegria acontecida no encontro pessoal com Jesus Cristo. Na prática, esse encontro supõe um redescobrir o caminho da fé para renovar o entusiasmo e compromisso com as exigências do Evangelho. Entendemos que o mundo vem sendo envolvido por uma profunda crise de fé.
Não podemos confundir a fé em si mesma, que tem como fundamento a Palavra inspirada e a salvação contida na Ressurreição de Cristo, com as consequências e práticas dela mesma. A fé em si é balizada e firmada na ação concreta da sadia doutrina da Igreja.
É importante lançar mão dos ensinamentos contidos nos dezesseis documentos do Concílio Vaticano II e no Catecismo da Igreja Católica. Mas ter cuidado com o apego exagerado na letra e ao seu espírito. A fé vai além de tudo isto, focada na vida mesma de Cristo.
Jesus é o poço de onde emana, com muita profundidade, a água da vida (Jo 4, 14). Não existe verdadeira fé sem uma identificação e paixão por Ele. Crer em Cristo é o caminho da salvação. Ele é o alimento que perdura e dá a vida eterna (Jo 6, 28).
O Ano da Fé será convocação para uma evangelização de forma nova, tendo um olhar direcionador, como uma bússola, focado no ensinamento oficial da Igreja. Para isto, o papa dá destaque aos documentos do Concílio Vaticano II e o Catecismo da Igreja Católica como um valor em si mesmos.
A fé é um dom, mas também tem que ser procurada e seguida (II Tm 2, 22). Com ela conseguimos perceber e ver as maravilhas que Deus realiza em nós. Assim podemos ser sinais vivos da presença de Cristo no mundo. Em tudo isto está a motivação para a celebração do Ano da Fé.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Abertura do Bote Fé Campo Maior


Durante os dias 04, 05 e 06 de Janeiro, estiveram reunidos no Centro Diocesano de Pastoral, em Campo Maior, Jovens de todas as paróquias e áreas pastorais da Diocese, com o objetivo de preparar a chegada do Cruz e do Ícone de Nossa Senhora que passará na Diocese no mês de março, o objetivo é peregrinar com a Cruz e o Ícone de Nossa Senhora nos diversos ambientes da diocese para acolher a juventude e celebrar a vida, a esperança e a alegria, como também a preparação e motivação dos jovens para a Jornada Mundial da Juventude que acontecerá em 2013 no Rio de Janeiro. Para marcar a acolhida da cruz e do ícone l, está sendo organizado um grande evento de evangelização intitulado “Bote Fé”. Dom Eduardo Zielski (Bispo Diocesano) fez abertura do encontro e mostrou grande alegria por ver tantos jovens entusiasmados para este grande momento de Evangelização. E ainda pediu aos jovens que repassem toda a informação e motivação recebida no encontro. Estavam presentes na também na abertura Pe. João Paulo (Coordenador Diocesano de Pastoral), Pe. Raimundo Pereira (Coordenador Diocesano do Setor Juventude), Pe. Lisardo (Coordenação da JMJ), Pe. Geraldo e Pe. Expedito.









 

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

3 de janeiro - Santa Genoveva


A França não deu ao mundo somente Santa Joana D'Arc como exemplo de mulher santa por interferir na política dos homens. Presenteou a Humanidade também com Santa Genoveva. Embora não se atirasse à guerra como Joana D'Arc, Santa Genoveva fez da atividade política e social uma obrigação tão importante quanto a oração e o jejum. Se Joana é invocada como guerreira, Genoveva se faz protetora nas horas de calamidade e perseguição.

Nasceu em Nanterre, perto de Paris, no ano 422, de família muito humilde e modesta, época em que a Inglaterra ainda era dominada pelo paganismo, exigindo da Igreja uma postura de evangelização naquele importante país. Assim, tinha Genoveva cerca de 6 anos (alguns escritos falam em 8) quando uma missão católica passou por sua cidade a caminho da Bretanha, liderada por dois bispos. Um deles profetizou que a menina seria um prodígio cristão - e não errou.

Já aos 15 anos Genoveva fez voto de castidade, participando ainda de uma irmandade que, embora não se retirasse para os conventos, atuava religiosa e socialmente a partir de suas próprias casas. Sua história como protetora da França tem dois episódios significativos e sempre citados: a resistência aos hunos e o auxílio dos moradores do campo à cidade que vivia na penúria.
Quando Átila, "o flagelo de Deus", liderou os hunos na invasão a Paris, a população decidiu abandonar a cidade. Santa Genoveva os convenceu a ficar, pois deviam confiar em Deus que impediria a destruição da metrópole. Embora quase fosse linchada pelos mais temerosos, sua convicção contagiou e o povo ficou. Átila não só não invadiu Paris como pouco tempo depois foi obrigado a recuar e abandonar outras cidades conquistadas.

Mais tarde, quando a cidade mergulhava na fome e na escassez, Genoveva exortou a população agrícola a socorrer os moradores urbanos, salvando milhares da morte. Por isso é invocada sempre que a capital francesa passa por calamidades e não tem recusado proteção, segundo seus devotos.

Sua atuação na política também livrou muitos da cadeia e da perseguição, pois interferia frequentemente junto ao Rei Clóvis, conseguindo anistia aos prisioneiros políticos. Morreu por volta do ano 502, depois de ter convencido o rei a construir a famosa igreja dedicada a São Pedro e São Paulo. Durante a revolução francesa a abadia construída sobre seu túmulo, e que abrigava suas relíquias, foi saqueada pelos jacobinos, mas seu culto continuou e perdura até hoje na Igreja de Santo Estêvão do Monte.